sábado, 14 de agosto de 2010

Fragilidade

Hoje pela primeira vez vi um homem sendo morto. Um instante, instante eterno, foi quando eu pude ver em seus olhos o desespero e o pavor. É a morte. Eminente, fria e rápida. E a morte dele, me fez lembrar a minha. A minha vida que traz em cada segundo um pouco do meu fim.

As poucas pessoas que conheço que tem o costume de pensar no significado da vida, na subjetividade da realidade e na efemeridade das coisas, se dizem bem resolvidas quando o assunto é a morte. Eu duvido que tenha alguém nesse mundo bem preparado pra ela. Tanto para a sua própria quanto para a dos outros. Eu posso ter uma fé que me console, mas saciar a saudade de quem já foi é impossível. É a dor que nós, ainda vivos, temos que carregar. É aquele aperto no peito que sinto todas as vezes que algo ou alguma coisa me faz lembrar dessas pessoas, é difícil passar pelos lugares em que fomos, lembrar os assuntos que falamos, as noites que nos divertimos, os instantes, o gosto, o cheiro e não inundar o peito de saudades. Mas não quero falar das outras pessoas. Quero aqui falar do tanto que a morte desse homem que eu nunca tinha visto me fez pensar na minha trajetória.

Nos meus maus vividos 21 anos. Claro que já fiz muito do que planejei. E claro que altos e baixos acompanharam esses anos. Estou quase conseguindo meu diploma na tão sonhada Universidade Federal, mas já passei noites estudando insegura se seria capaz de passar no tal do vestibular. Tenho um emprego público médio que paga minhas contas e cobre boa parte dos meus gastos, mas já me desesperei esperando um ônibus às 5 da manhã para ir para meu emprego de telemarketing. Já conheci muita gente bacana, mas também me decepcionei muito com muitas delas. Ri escandalosamente e chorei copiosamente. Já passei uma noite apaixonante sob as luzes da Times Square, mas também passei noites insones no canto do quarto, me sentindo a mais sozinha das pessoas. Já tirei minha carteira de motorista, mas ainda tremo de medo de dirigir. Já chorei a morte do meu melhor amigo, mas soube agradecer pelos outros melhores amigos que conheci. Já ri muito do meu sonho de ir pra Machu Picchu, mas quase caí de joelhos de emoção ao ver a beleza da cidade perdida dos incas. Já jurei nunca mais me apaixonar, mas não resisto ao encanto de acordar ao lado dele, olhar nos seus olhos e agradecer ao universo por ter me colocado exatamente no lugar em que eu mais queria estar.

Mas ainda assim, são maus vividos anos. Porque agora eu pergunto “e daí?”. E se ao invés daquele homem do inicio da historia, fosse o meu dia de morrer? O que ficaria disso tudo? Eu teria dito aos que amo, o tanto e como é esse amor? Teria resolvido os mal entendidos? Quem seriam as pessoas que me levariam na memória, quais seriam as vidas em que eu pude fazer alguma coisa de realmente válido, que eu tenha contribuído de alguma forma para que elas tivessem um dia melhor? Agora eu vejo que vivemos mergulhados numa corrente de egoísmos, de hedonismos, imediatismo e tantos outros “ismos” que nos acompanham vida a fora. E acho que os baques, as perdas, os sofrimentos, são os botes a tentar nos salvar.

E se o seu dia de morrer fosse amanhã? Estaria preparado?


"Eu não posso entender
Essa vida tão injusta
Não vou fingir que já parou de doer
Mas um dia isso vai acabar

Eu não consigo me convencer
Que essa vida não foi injusta
Tanta falta me faz você
Queria ver você lá em casa"

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O que todos nós já sentimos

Ok, não é fácil desistir de alguém. Todo mundo sabe que nessa situação, o nosso foco é sempre a maldita da pessoa, como se as coisas só pudessem fazer sentido com ela. Como se a festa só fosse boa se ela ali estivesse.
Para mim a receita foi simples e infalível. Ao menos tem sido.

Primeiro passo foi parar de ouvir Los Hermanos e todas as músicas deprês. Impressionante o tanto de vezes que ouvi “Pois é”, “Atrás da porta” ou “Olhos nos olhos”. Credo. Foda quando a gente perde noção da realidade. Quando a gente precisa de alguma coisa pra lembrar nossa dor, nossa perda. E não só música, tem gente que se diverte alimentando nossa dependência, nos lembrando a cada segundo dos casos e passos que a pessoa dá.

Segundo foi parar de pensar na pessoa antes de dormir. Assim a gente dá uma forcinha pro clichê quesito “tempo”. Feito isso, em uma semana ela passou a não fazer mais parte dos meus sonhos. Nem como o príncipe nem como sapo. Simplesmente deixou de atuar.

Depois e pra finalizar, nada como uma nova distração, uma nova aventura, alguma coisa que te dê de novo o friozinho na barriga e a sensação do desejo. Ah como isso é bom!
Uma boa dose de foda-se também vai bem nessas horas. Se permitir. Se perdoar.
A questão não é tirar a pessoa do seu convívio e nem fazer com que ela se torne o inimigo público número 1. Não é a pessoa. É a nossa bendita projeção.

E no final das contas, tudo se torna mais fácil do que pensamos. Aí veremos que o tal não é tão legal assim, nem tão imprescindível. E o amor que achamos que sentimos nem é tão amor assim, se é que foi amor um dia.


“Não se afobe não que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.”

domingo, 8 de agosto de 2010

“Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora.
A casa fica bem melhor assim”

Hoje o dia começou cheio. Cheio de coisas pra arrumar. Sentimentos, bagunças, roupas, coisas da viagem ainda espalhadas pelo chão. Meu quarto sempre refletiu minha confusão. Se tudo está organizadinho é porque tô tranquila. Nos últimos meses só tenho visto bagunça. Como um reflexo da alma.

Já ensaiei um discurso. Resolvi falar o que tá incomodando. Mas cara, me expor em relação a sentimentos sempre foi tarefa difícil pra mim. Cruz credo. Só de pensar já quase tenho um ataque. Mas como estou nessa de organizar minha vida, decidi partir por aí. Custe o que custar. Dessa vez vou criar coragem e dizer o que penso.

Voltei com uns deslizes morais da adolescência. Preciso dar um jeito nisso. Nem sempre tesão pode falar mais alto, mas foi tudo tão conveniente.... Sabe quando você consegue matar finalmente os dois coelhos da cajadada? Por enquanto estou só curtindo essa irreverência do descompromisso, mas daqui a pouco vou dar um ponto final nisso. Antes que seja tarde. Não quero mais ser negligente com meus sentimentos. Muito menos com os dele. Muito menos ainda com terceiros, como é o caso.

Bem, ainda tenho muito que fazer. Bom assim.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Ele virou pra mim e disse:

-Professora, já te falei que prefiro você do que a minha mãe?

E eu aos pedaços, sem saber se fico triste ou feliz.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

E eu me visto de saudades do que já não somos nós

"O que me dá raiva não é que você fez de errado
Nem seus muitos defeitos, nem você ter me deixado
Nem seu jeito fútil de falar da vida alheia
Nem o que eu não vivi aprisionado em sua teia...

O que me dá raiva são as flores e os dias de sol
São os seus beijos
E o que eu tinha sonhado pra nós...
São seus olhos e mãos e seu abraço protetor
É o que vai me faltar
O que fazer do meu amor?"

Essa música embalou minha madrugada insone.

Sabem aqueles dias em que a única coisa que seu coração consegue dizer é chega! Não aguento mais?

Pois é, esse dia finalmente chegou pra mim.

Ufa! Já era hora!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Das coisas que me fazem bem

Não tem sensação melhor que um sorriso de uma criança satisfeita pra tirar minha cara de tristeza e inundar meu coração de felicidade. E isso porque há pouco tempo, crianças me apavoravam, figuravam na lista das coisas/pessoas que eu evitava a presença.

Mas quem diria que eu ia ter a oportunidade de trabalhar com elas. De aprender com elas. Não com uma ou duas, nem com uma sala de 30, mas com 400 delas. Todos os dias. Me ensinando que amor e disciplina caminham lado a lado. Que mau comportamento é quase sempre necessidade de carinho. Que um bom abraço cura quase todos os seus males, quase todas as suas dores de cabeça, quase todos seus sofrimentos. E que um bom prato de comida cura os outros quase.

Crianças que me obrigam a estar sempre com um sorriso, a ter sempre um colo, a estar sempre por perto. Não importam meus problemas, elas simplesmente me exigem que eu esteja inteira. Justo. Muito justo para quem não conheceu o lado bom da vida. Muito justo pra mim, que nunca conheci os problemas reais da vida.

E dia a dia, vou me apaixonando cada vez mais por cada uma delas. Obrigada a vida por ter me dado essa preciosa oportunidade de curar minhas dores da alma.