sábado, 9 de outubro de 2010

Diário

Todos os dias na mesma rotina. Já sei de cor o que fazer em cada instante. O relógio programado as sete só pra me dar o prazer de saber que eu posso dormir até as nove. Ou pra me angustiar de mais uma manhã perdida repondo as horas que a insônia me come de madrugada. O despertar sempre preguiçoso, sempre pesado. Nem me levanto e já abro o email, porque eu sei o que me espera todos os dias. Nem isso é surpresa mais. Até o inusitado já virou rotina. Depois o café, sempre o café, pra me acordar, pra tentar me animar. O que vestir? Um milhão de possibilidades pra uma escolha. O mundo é mesmo patético.

Almoço, ver se tem alguma coisa prática e rápida na geladeira.  Não gosto de perder meu tempo cozinhando, mas desperdiço horas fazendo nada que preste. A gente realmente não valoriza o importante. Na sequência, o trabalho. Sempre atrasada. Crianças. E tudo de novo: substituição dos professores cansados demais pra ir trabalhar, ou folgados demais pra isso. Queria gritar na orelha deles: Vão à merda raça preguiçosa e covarde. Mas pra mim não importa, a função continua. Depois a faculdade. Mais uma aula que sei que não vou me interessar, não vou prestar atenção. Só olho o relógio, com a ilusão de que venha algo melhor. Mas não vem, e eu sei disso. Nos dias bons, ainda consigo dar uma escapada das aulas e tomar uma cerveja. E é só nesses momentos que esqueço dessa desgraça. Amizade realmente tem esse poder de aliviar umas dores.

E por fim, banho e cama. Cama, mas não sono. Sei que meus fantasmas não me tem deixado dormir. Eles tem me assombrado e me posto um medo danado. Medo de não aguentar mais isso. Medo de não querer acordar.

Tô suplicando pra que algo de novo me tire desse marasmo. Sou velha demais pra ter ilusões, mas nova demais pra me acomodar com essa vida. Dou conselhos que nem eu sigo, choro lágrimas sem vida, não tenho fé em nada mais. “Minha alucinação é suportar o dia a  dia”. Estampo um sorriso enferrujado. Digo que sim por preguiça de dizer que não. De ter que dar motivos, explicações. E eu não sei o que fazer com essa sensação. As pessoas ditas felizes, são felizes porque são acomodadas com o pouco que tem, são realmente alheias ao sofrimento e a dor ou são agraciadas com essa coisa chamada tolerância? 

Um comentário:

  1. Ana, na verdade esse seu post me inspirou a escrever o que vc acabou comentando.
    É uma sensação de abandono, como se não tivéssemos alguém pra compartilhar o que há de mais profundo e não só: tb sinto falta de alguém q compartilhe dos meus gostos, uma espécie de companheirismo amigo.
    Se ilude aquele q pensa que namorado (ou namorada) preenche esse vazio. Eu amo o meu mas ele não pode ser - como amigo - tudo o que eu preciso...

    Estou bem perdida nesse lado...

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